sábado, 14 de novembro de 2020

Onde não vivem os monstros


OK, a sexta-feira 13 foi ontem, mas não resisto: lá vai a equipe da COISA (o meu Centro de Oposição a Invencionices, Superstições e Asneiras, no qual trabalho exata e exclusivamente eu mesma) se debruçar na data e provar, por A + B e por C - D, que tem também uma penca de troço legal nesse dia injustiçadíssimo – como o são todos os dias, animais, pessoas, ideias, objetos vitimizados por implicâncias malucas. Na evidente falta do que fazer, ou (o que é mais preciso) no escapismo do que deve ser feito, humanos ociosos saem simplesmente envenenando os pacová de humanos impressionáveis, e isso fere sempre de morte o espírito da COISA; em desagravo, portanto, eu aqui comigo pesquisamos diligentemente e descobrimos que:

Numa sexta-feira 13, houve um primeiro registro de carnaval – ainda chamadinho de entrudo – na jovem São Paulo.

Numa sexta-feira 13, foi fundada a cidade de Cabo Frio.

Numa sexta-feira 13, foi criada a vila de Aquiraz, primeiríssima capital do Ceará.

Numa sexta-feira 13, Torricelli inventou o barômetro (mandou bem, Tôrri!).

Numa sexta-feira 13, estreou em Dublin o mo-nu-men-tal oratório O Messias, de Händel.

Numa sexta-feira 13, estreou em Munique a ópera A falsa jardineira, de Mozart.

Numa sexta-feira 13, a França avisou Londres, afrontosérrima, que tinha reconhecido a independência dos Estados Unidos SIM, mon amour! Chupa essa mangue

Numa sexta-feira 13, foi fundada a Impressão Régia, debutante das editoras brasileiras. 

Numa sexta-feira 13, (São) João Maria Vianney chegou à paróquia de Ars com seu coração e seus livros. 

Numa sexta-feira 13, John Keats escreveu o soneto "As estações humanas" e o dirigiu em carta a Benjamin Bailey; o letreiro Hollywoodland surgiu nas montanhas de Los Angeles (mais tarde, numa reforma, perdeu o rabicholand); o game Mario Bros foi lançado; a Nasa declarou ter descoberto água na Lua; Lyndon Johnson cravou como ilegal a contratação de funcionários discriminados por gênero.

Em sextas-feiras 13, nasceram: o poeta escocês William Drummond de Hawthornden (não sei vocês, mas acho auspicioso que nasçam poetas da marca Drummond); o médico dinamarquês Olaus Wormius; o desenhista tcheco Václav Hollar; o naturalista sueco Olof Rudbeck – um dos descobridores do sistema linfático e antepassado de Alfred Nobel; o fabricante de instrumentos alemão Johann Christoph Denner, inventor do clarinete; o pintor inglês Joseph Highmore; o também pintor escocês Allan Ramsay; o escritor italiano Carlo Gozzi; o barítono e violinista holandês Gerardus Craeyvanger; a brasileiríssima Antônia Clara, mãe de nossa Nísia Floresta; o pediatra inglês Samuel Gee, descritor da doença celíaca; o neurologista suíço Otto Veraguth; o nosso poeta romântico Pedro Luís Pereira de Sousa; a carmelita chilena (Santa) Teresa de Jesus dos Andes; os queridos atores Alexandre Nero e Fábio Lago.

Uma fartura de bons aconteceres, em sumíssima – isso porque estive só 24 horas brincando de escavações e não pude, a contento, meter a britadeira nos séculos. Voltei à tona meramente com uma pepita de fatos e de gentes, mas já dou por entendida a COISA: há mais químicos, esculturas, revoluções, inaugurações, aviadores, balés, cientistas, abolicionistas, monumentos, milagres, praças, matemáticos, cantores, romances, festas, cineastas entre céu e terra do que supõe nossa vã cronologia. Mui felizmente, não há tempo que chegue para desentocar todos os feitos do tempo que já chegou; são excessivas e desnecessárias as amostras do óbvio. Porque é óbvio: nenhuma data, nenhum temor, nenhuma cisma perturba o nosso sono com disfarce de brinquedo assassino se a gente mesmo não der corda.

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