domingo, 21 de março de 2021

Volta para você

Não assisto ao BBB, porém mais ou menos o acompanho pelas notícias e redes, e sei que o casal (ou ex-casal) Carthur tem sido constante foco de análise e fonte de treta. Parece, segundo o UOL, que a moça andou chorando de esgotamento no quarto – não creio que somente pelos despeitos/desfeitas do rapaz, mas também ou principalmente por isso –, ao que o amigo Fiuk tentou responder com a melhor escuta, o melhor consolo. O que especialmente me flechou foi a frase de reconvocação que o cantor dirigiu à sister chorosa: "Volta para você, Carlinha".

Sim, amiga, sim, volta para você; que coisa maravilhosa (e estou mui solenemente me lixando para o descompasso na conjugação do imperativo, tem de ser assim justinho, conjugado de uso e de alma). Que achado feliz na expressão, que maneira feliz de dizer a uma pessoa aparentemente divorciada de si mesma que procure retomar a união consigo, procure se reaconchegar no endereço emocional onde morou com sua melhor versão. Volta para os seus próprios braços, mulher – porque quase sempre, como neste caso, quem se autoabre mão é uma mulher –, volta para a concordância com as próprias crenças em gênero e número, sem o dementador afetivo que te consome nesse grau.

Volta para aquela você que se pertencia na roupa, no Face, no horário, na chave de casa; aquela que não se encrisava de ansiedade quando o colega de trabalho amava a foto de perfil, porque não havia um encosto sentimental para se encrisar de ciúme violento (redundância: todo ciúme é violento, gritando ou não, batendo ou não, segurando o braço ou não. Stalkear, fechar a cara, vigiar, ter a senha da conta para dar incerta, tirar satisfação por causa de mais coraçãozinho ou menos coraçãozinho: VIOLENTO. Piora 435% das vezes, melhora absolutamente nunca). Volta para aquela você que não buscava olhar de aprovação (ou permissão?) para o comprimento da saia, que não estremecia num pré-susto a cada ruflar de vento vigilante no entorno do celular, que não se isolava do grupo de amigos em resposta ao choramingo de um dondoco. Cerque-se de novo de sua rede de confiança, dê um perdido master no atraso de vida, mude de rua, de bairro, de cidade se puder, encha o saco na delegacia se precisar, transmigre-se inteira em outra se for o caso, apenas para voltar a ser aquela: a legítima. A original. Vo-cê.

Volta para a você que ria muito, que ria alto, que passava máquina no cabelo se desse na telha, que queria fazer tatuagem e fazia, que mudava móveis e pintava paredes e trocava quadros a seu bel-prazer e gosto, que deixava o smartphone em casa quando ia ali dar um tchibum sem prazo no mar, que desde que deixou a casa dos pais não fazia relatório pra ninguém a não ser para o chefe. Aquela focada alegremente, radiantemente na carreira, no estudo, nos filhos, no hobby, na meditação, nos planos de viagem, nas séries da Netflix, nos filmes do Oscar, whatever – focada no que quer que tivesse escolhido de mais pleno, de mais seu, desinvadido da tensão de administrar tensões com macho inseguro, possessivo, ancorento, carente, dependente. Aquela com autoestima de cabelo solto (ou zero-maquinado), aquela consciente de sua beleza intransferível, aquela altamente sabedora de seus talentos, de sua inteligência, de seu brilhantismo imunes ao gaslighting das criaturas do pântano. Aquela, aquela mesma; a mulher da sua vida, sua alma-fêmea. Voooolta.

Volta para aquela que merece você e que você merece, as long as you live. O que Deus floriu, que homem nenhum despetale.

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