quarta-feira, 31 de março de 2021

Únicas desculpas quase plausíveis para não usar a máscara


Você não respira pelo nariz. Nem pela boca. Na verdade, você não respira at all: é um vampiro nascido em 1523 que tem circulado por aí achando o momento atual deveras pitoresco.

Você herdará 97 bilhões de dólares de seu tio Bertoldo, caso sobreviva à pandemia sem tomar nenhum cuidado específico, conforme as disposições testamentárias. (Sabe, você se arrepende um pouquinho de ter dado o box Criminal minds de presente para seu tio Bertoldo.)

Jigsaw implantou um dispositivo em sua traqueia que explodirá o quarteirão inteiro, se for ativado pela aspiração da menor micronanofibra de qualquer material conhecido de protetor facial.

Você é um modelo avançado de replicante que conseguiu zerar toda a troca de partículas não essenciais entre seu organismo e o ambiente.

Você é um T-800 e não pode evitar, precisa exterminar coisas.

Você é o Cavaleiro sem Cabeça – e máscaras são tradicionalmente usadas em cabeças, ora pílulas.

Você é o Tocha Humana e... bem.

Uma lenda familiar que a bisa lhe contou em sua infância, e que remonta aos ostrogodos, determina que os descendentes de Teodorico, o Grande – no caso você – permaneçam longe de tudo que representa esconderijo e disfarce, sob pena de serem atingidos pela maldição de Odoacro, rei dos hérulos, morto por Teodorico num banquete que deveria ser uma celebração.

Sua barba com cerdas de adamantium rasga em pedacitos tooodas as máscaras que toca, AFF.

Cento e cinquenta e dois mil escaravelhos fibrívoros invadiram sua casa, seu bairro, sua cidade e não deixaram fiapo de nada que lembre tecido ou similar –inclusive a área se transformou involuntariamente em colônia de naturismo.

Você tem laudo, laudíssimo, laudérrimo reconhecido em cartório pela OMS e citado nas mais conceituadas publicações de medicina como estudo de caso, TAMANHA e tão acachapante é a sua alergia: um roçarzinho da máscara e empola a pele, espasma a glote, trava o coração, vem diarreia, febre, vômito, cianose, hipotermia, o pacote mais absoluto do dar um troço.

(E mais não posso.)

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