terça-feira, 6 de abril de 2021

Repoemas


REMOTIVO

(Com o perdão da bem-amada Cecília)


Eu grito porque o farsante insiste
e minha alma está inquieta.
Mas nem por isso ela desiste
nem se afeta.

Irmã das justas rebeldias,
desejo ao Bozo o impedimento,
e, às mãos que ora estão vazias,
sustento.

Em sonho o mundo modifico
e o redesenho traço a traço:
ao pobre, glória; ao que era rico,
fracasso.

Sei que grito; e é o melhor escudo.
Tem sangue eterno a mão mancomunada.
E o tempo faz de quem quer tudo
um nada.

***
REPOEMA DE SETE FACES

(Com mil vênias do querido Carlos)


Quando nasci, um anjo curto
desses que vivem no ombro
disse: Vai, moça! ser ave na vida.

As asas espiam os homens
que correm atrás de poderes.
A água talvez fosse azul,
não houvesse tantos despejos.

O ônibus passa cheio de telas:
telas de jogos de zaps de novelas.
Para que tanta tela, meu Deus, pergunta minha visão.
Porém meus olhos
não se grudam a nada.

A mulher atrás da 3M
é arisca, dual, reticente.
Sempre se dispersa.
Está sempre voando consigo
a mulher atrás dos óculos e da 3M.

Meu Deus, não nos abandonaste,
nós é que abandonamos os teus
pequeninos, carentes e fracos.

Mundo mundo triste mundo,
pra meu desgosto profundo
um voto é um voto, não é uma solução.
Mundo mundo triste mundo,
mais triste é não ter votação.

Quem poderia não saber
que esse pulha
que esse basbaque
botava a gente presidido pelo diabo?

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