sexta-feira, 30 de abril de 2021

Pequena loja de horrores


Há alguns anos, num fórum do site Reddit, propôs-se que os usuários escrevessem a melhor história de terror que pudessem criar com no máximo duas frases. Povo foi criativo, como se espera sejam os sapiens em matéria de aterrorizâncias; espiem só estas pouquinhas traduções de microcontos produzidos:

"Sempre estranhei como minha gata olha fixamente para mim – parecia sempre olhar fixamente para o meu rosto. Até que, um dia, notei que ela estava sempre olhando para trás de mim."

"Acordei com um barulho de batidas em algum vidro. Primeiro, pensei que o som viesse da janela, até que ouvi o som vindo do espelho outra vez."

"Ela me perguntou por que minha respiração estava tão pesada. Não estava."

"Não há nada como o riso de um bebê. A menos que seja 1 da manhã e você esteja sozinho em casa."

"Eu nunca durmo. Mas não paro de acordar."

Ouch.

Certo, cheguei mil milhões de dias atrasada para o desafio, porém me dou ao desfrute de brincar um bocadito também, como não? Nada mais terror way of life do que herdar sombras de coisas passadas e muy muertas, e cirandar animadamente com alminhas penadas. Assim sendo, partiu:

Todas as portas e gavetas estavam abertas; nenhuma peça faltava. Sobravam, ao contrário, ovos e mais ovos pequeninos, que estremeciam de vez em quando.

Sim, me sinto perfeitamente bem, jurei para o chefe. Ele não desviava os olhos dos dois ratos que, a cada mordida, me ensopavam de sangue as roupas.

Atravessando a rua comercial, viu a si mesmo exposto em todas as vitrines.

O telegrama alertava que, em 24 horas, meu quarto seria ocupado pelos novos inquilinos. Eu soube por ter lido o papel aberto sobre a mesa; por mais que eu fizesse, não conseguia sustentá-lo com as mãos.

Só quando já havia caminhado por cinco minutos sob a chuva percebeu que o braço direito fora o primeiro a dissolver-se.

"Mas não tem nada escrito neste livro, meu filho!" "É; hoje não."

A diretora ligou: Lia entregara todos os trabalhos e fizera todas as provas do dia. Não tinha sido vista na escola em momento algum.

Já estava quase em sua calçada; começou a vir gente da direção oposta, correndo em desespero. Uma das pessoas só pôde lhe dizer, antes de morrer a seus pés, que "não olhasse nos olhos daquilo".

Ninguém podia ouvi-la gritando dentro daquela página, que acabara de ser colocada no fragmentador de papel.

Quando acordou, todos os espelhos da casa haviam sido retirados. Cada um a quem questionava respondia-lhe com uma calma piedade: "É melhor assim".

(Continuem sem mim.)

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