terça-feira, 25 de maio de 2021

Afirmacionismos


Foi assim que, gaiatamente, Fábio Porchat inaugurou o Papo de segunda de ontem: colocando no meio de suas brincadas apresentações de praxe a genial definição de afirmacionista – aplicada ao querido Emicida, no caso, mas certamente extensiva a todos os demais participantes e aos fiéis papolovers (como esta que vos escreve). É genialmente adequado o conceito, nestes tempos de tão ensandecido desapego das verdades outrora mui fáceis; se há os que negam, negam, negam o óbvio, e os há ainda em abundância, não é menos do que urgente que haja também os que afirmem, afirmem, afirmem em todas as ruas e redes e vilas e estações e páginas e outdoors tudo que é gritável por ser cristalino, tudo que é correto por ser científico, tudo que é garantido e fact-checked. Deixem-me, pois, me alinhar às hostes quase involuntariamente convocadas pelo bom Porchat e ser sim (coração aos berros) afirmacionista de que:

📢 Não é que o "governo" não se importe de nós morrermos. Ao "governo" INTERESSA que nós morramos. Ter muitos idosos falecidos significa, para os desgraçados-em-chefe, algo a ser visto como um alívio para a Previdência; entre os falecidos jovens, o provável é que a maior quantidade seja de pobres e negros, categorias classicamente enxergadas pelas elites brasileiras como estorvos e (desde a abolição de 1888, em especial) destinatárias preferenciais de todos os instrumentos de genocídio.

📢 Estender a pandemia o máximo possível é a única chance que o "governo" acredita ter de impedir que nós, pessoas de esquerda, tomemos as ruas de maneira tão intensa e furiosa que só reste à Câmara abrir processo de impeachment.

📢 Indo nós para a rua ou não, o "governo" cairá; é simplesmente histórico: todo e qualquer fascismo se autodestrói. Já está inclusive acontecendo, cada episódio da CPI borrifa mais longe o clássico perfume de bases desmoronantes.

📢 E cada ato de desespero que quer posar de macheza, como a palhaçada motoqueirosa do domingo, faz a pá do Juízo Final cavar mais e mais profundo. Aqui pelos meus cálculos, o Grand Canyon que irá se tornar a cova deste fascismo maldito já está chegando ao solo chinês (coisa de 13 metros para mais ou para menos).

📢 Nossas mais de 450 mil vítimas da covid hão de ter suas memórias avenged em Haia.

📢 O que vivemos (e morremos) neste momento é apenas o paroxismo do que o Brasil tem sido há cinco séculos, com pequeníssimos intervalos/núcleos em contrário: solo regido por elites hedonistas, cruéis, assassinas, escravagistas, exploradoras, torturadoras, desbriosas, preconceituosas, predatórias, covardes, cafonas, ridículas, arrogantes, hipócritas, mesquinhas, inclinadas ao beija-mão do rei e do imperador em prol de benefícios para seus clãs, dotadas de consciências sociais natimortas e caracteres humanisticamente indiferentes, agarradas ao conservadorismo de consumo externo e à incapacidade moral de compreender e vivenciar o cristianismo no qual DIZEM crer, e ao qual renegam solenemente de portas adentro. Certo, e também de portas afora.

📢 Gente que definitivamente não faz parte da elite, porém atravessa os dias achando (como os loucos de anedota, autoproclamados Napoleão) que faz, anda apenas, se já é idosa, envenenando suas últimas temporadas na Terra com doses cavalares dum ódio e duma vergonha de que talvez nunca tenha tempo de buscar o antídoto. São almas que estão descultivando saudades, esforçando-se por serem desamadas e por terem a lembrança tão infame quanto a daqueles que apoiaram hitlerismos, mussolinismos e afins.

📢 Tic-tac, defensores da morte; quem ainda tem casaca a virar para a vida, vire. Que o vento está mudando de norte.

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