sábado, 8 de maio de 2021

Terceira leva de sinopses que não sei se há, mas poderia haver


Uma cidade vive atormentada por um rosto gigante que se forma entre as nuvens e que há décadas acompanha a (e se intromete na) rotina de todos os moradores.

Um dos cômodos de uma casa fica, certo dia, transparente e intangível, como se não mais que de repente virasse uma espécie de rascunho em 3D. Nenhum dos residentes quer ali entrar; discute-se com terror o que poderia acontecer à estrutura física de alguém que penetrasse num espaço supostamente não existente.

Após o falecimento da mãe, uma jovem encontra uma foto dela ao lado de um belo desconhecido, num passeio romântico em Veneza. Mas COMO, se o pai da moça tinha sido, comprovadamente, o único homem da vida de sua mãe? Vários desenrolares e pistas revelam à jovem o impensável: madrecita teve uma vida simultânea e completamente outra, numa dimensão paralela – e sequer existe a certeza de que ela também tenha morrido naquela dimensão.

De repente as sombras de tudo que o sol abraça se põem brancas, branquíssimas; não só começam a doer nos olhos como aparentemente queimam o que nelas roça. Percebe-se então, com o avanço da coisa, que os poucos indivíduos imunes às queimaduras são os quase impraticantes de mentiras, enquanto a terrível sensibilidade dos mentirosos às sombras incandescentes os obriga a refugiar-se na maior escuridão disponível.

Um homem luta todos os dias contra dois desesperos conflitantes: a impressão de que não foram escritas histórias suficientes no mundo e a constatação de que não haverá tempo suficiente para ler todas as histórias escritas.

Tendo sempre vivido em lugares muito quentes, uma mulher desenvolve uma obsessão por tocar a neve e cumprir a tradição de construir nela um bonequinho (ninguém na família sabe de início, mas foi um sonho: certa "revelação noturna" plantou na pessoa a crença de que apenas sob essa condição inusitada todos os seus desejos financeiros, amorosos, profissionais estariam liberados para realizar-se). O problema é que absolutamente TUDO acontece para que o momento Frozen jamais se consume – cancelam-se voos, somem passaportes, derramam-se vulcões, sopram no planeta ondas de calor saariano –, e o drama da perseguidora de neve ganha empatia mundial como o reality do momento.

Uma secretária se assusta com a semelhança estarrecedora de seu novo chefe com seu pai (o pai dela, naturalmente), e cria a forte suspeita de estar trabalhando ao lado do próprio irmão. Para tirar a cisma, passa a investigar a fundo a vida do chefe e descobre um provável envolvimento do moço num assassinato jamais esclarecido. Dilema-se, portanto: contar a ele sobre seu parentesco quase certo ou reunir mais e mais provas para denunciá-lo?

Alguém envia, pelo correio, dez chips rastreáveis para dez pessoas aleatórias. Cada destinatário é instruído a entrar em contato com os outros nove e montar com eles um grupo virtual, a fim de aguardarem a missão que lhes será passada. Meses depois, todos acordam na mesma casa em Tallinn, capital da Estônia, porém nenhum deles se recorda dos demais nem imagina por que está segurando uma carta de agradecimento que lhe foi dirigida.

Todo dia um desenhista desperta sob o efeito de uma última palavra em seu sonho: pai! Não tendo filhos e havendo perdido o próprio pai muitos anos antes de principiarem esses chamados, o artista conclui que se trata de algum de seus personagens inascidos; põe-se, então, a desenhar ferozmente todos os que possam ser responsáveis pelas invocações – mas os gritos engordam a cada madrugada (pai! pai! pai! pai! pai!), até que o moço, exausto, desenha a si mesmo e se esconde em sua versão de papel. Tão logo ele se refugia no outro si, alguém lhe bate à porta imaginária: pai!

Uma senhorinha se torna especialista em fazer bebíveis as memórias das pessoas; sob encomenda, transforma a cor duns olhos, o toque duns braços, a meteorologia duma tarde, a música dum encontro em variedades de chás.

(Tem mais?)

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