quinta-feira, 27 de maio de 2021

Coisas que abraçam


Bolo assando. Bolo assado. Luz amarelada. Cafeteria muito adornadinha de madeira. Pós-guardação de compras que nos abasteceram. Manhãs sem horário. Tardes sem horário. Noites sem horário. Vésperas de dias sem horário. Cenários das novelas da Lícia Manzo (cheios de sol e flor, mire e veja). Tons de rosa e turquesa. Lençol recém-posto. Parede de tijolinho. Cordão de lampadinha. Flânerie individual ou em dupla. Sala superapetrechada de sofás. Crédito amigo depositado no VR. Atualização no saldo Repassa: mais uma pecinha vendeu, oba! Sopa de madrugada, com pãozito e livro. Remédio de cólica fazendo efeito. Remédio de enxaqueca fazendo efeito. Achocolatado. Pão na chapa. Biblioteca. Memória duma espécie de salpicãozinho, num couvert de restaurante da infância, que até hoje me abre o apetite. Retweet.

Assistir à TV de outro país no hotel, em momentos pós-passeio. Assistir ao Papo de segunda (TÃO queridões!). Pousar o pé, quando está formigando, num chão geladinho. Deitar com o alinhamento preciso da coluna. Sentar ante o computador sem tema determinado. Sentar ante o computador com um tema colorido. Terminar a correção. Ver a Dança no Domingão. Vestir blusa que valoriza sem marcar e amacia sem sobrar. Beber um bom chá preto. Botar baunilha no leite. Fechar as cortinas. Achar um casal da ficção pelo qual suspirar de torcida. Ouvir a música favorita na loja. Flagrar nossa mala fabulosa sobre a esteira do aeroporto, logo na primeira leva. Já estar com tudo arrumado. Sentir-se pós-banhado. Aguardar o feriado. Receber encomenda da Estante Virtual. Pôr-se à caça dos presentes de Natal. O filme ser legendado.

Creme bavarian. Caqui. Alho-poró. Shampoo do Boticário. Comfort para roupas de bebê. Livro com orelha que marca a página (oooora, não me amolem, a orelha é feita para issozinho mesmo). Feijão temperado que nem em pensão antiga. Biscoito amanteigado. Broinha de milho. Bolsa de água quente. Vick Vaporub. Ovo mexido. Canais cujo som está na justa medida e não nos enfarta de decibéis a cada comercial. Música que não se torna espírito obsessor quando fica na cabeça. Vídeos de catioros e seus bebês humanos crescendo juntos. Lencinho úmido. Álcool gel perfumado. Jardim com muita flor balofa e nenhuma ordem aparente. Torta salgada. Cômodos de formatos esquisitos. Mesas de restaurante com sofás. Casas tomadas de hera. Salas de cinema (cheirando mornamente a pipoca). Pipoca. Azeite. Mate com leite. Essência de hipermercado, feita de pão com sabão em pó. Mais alho-poró. Árvore de Natal gordalhuda de enfeite.

Dizer às coisas que nos foram fatais – que nunca mais.

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