quinta-feira, 6 de maio de 2021

Dicionário (anti)prático


Alecrime: delito cometido por jovem cidadão de bem que não sabia o que estava fazendo por ser ainda um menino de 28 anos.

Brasileigo: indivíduo amador nas usanças da terra; elemento que insiste em demonstrar alguma quantidade de espanto diante de eventos ocorridos em solo pátrio.

Compartilhaminto: ato de abarrotar as redes com produtos de diarreia verbal perfeitamente isentos de coerência ou veracidade.

Desputismo: regime autoritário cujos principais líderes (e correspondentes seguidores) têm por guia de conduta o mais absoluto ressentimento contra todo e qualquer direito reconhecido como humano.

Ex-pressão: situação na qual um povo em vias de ser exterminado é impedido, pelo agente viral do extermínio, de manifestar-se coletivamente em espaços públicos contra seu exterminador-em-chefe.

Fãfarrão: endeusador de celebridades específicas, em nome das quais arrisca bravaticamente sua integridade; consequente vítima de necrose psicológica e de falência múltipla de óbvios. Cf. bolsomínion.

Gaveita: nicho de armário não submetido a processos organizatórios desde 1997 e portador de objetos oriundos da Twilight Zone.

Hierarquinimigo: personagem detentor dos meios de produção que é reconhecido como adversário natural por todos os personagens não detentores dos meios de produção e detentores de bom senso.

Interloucutor: ente com o qual não se mostra viável manter diálogos coesos, por motivos de "e o PT?".

Jornalesmo: vertente freestyle da apresentação de notícias (ou nãotícias), na qual são privilegiadas declarações anônimas ou autorais em método classificável como barata-voa.

Kafkaos: período histórico durante o qual nos descobrimos transformados em coisas crescentemente piores toda vez que acordamos de sonhos intranquilos.

Latifundos: recursos advindos de grandes proprietários rurais e investidos no desenvolvimento de leis personalizadas. Vide agro é tech, agro é pop.

Mixordem: dom de localizar precisamente a última receita do remédio entre o material didático sobre orações coordenadas e as notas de compra do Hortifruti.

Nós-talgia: saudade da pessoa que éramos em diferentes circunstâncias.

Outracismo: abandono da personalidade verdadeira em prol de um self socialmente encorajado.

Perspicaça: talento admirável para empreender pesquisas virtuais ou presenciais e obter quaisquer informações desejadas.

Quosciente: ser humano iluminado pela consciência filosófica de não ser apenas uma estatística.

Resindignação: tendência a aliar a mais absurda revolta com a mais notável passividade.

SUScesso: possibilidade real de acesso dos mais pobres ao tratamento e à prevenção de doenças.

Truculema: palavra de desordem emitida, em idioma neandertalense, por seres patologicamente fissurados em homens de farda e na produção do sofrimento alheio.

Utopique: invejável disposição para continuar assentando os tijolinhos do mundo ideal após longos expedientes no real.

Vontarde: pulsão carboidrática normalmente associada aos horários mais impróprios para a conveniente digestão dos víveres consumidos.

Wi-falha: assombração que mais acomete residências em tempos de home office.

Xilogastura: sentimento de vivo desgosto causado por arranhões e marcas de copo que têm constatada sua existência sobre pisos e móveis de madeira.

Yin-yanglo: indivíduo de psiquê repartida entre crenças do Oriente e sistemas de cultura ocidentais.

Zoombi: Homo sapiens reduzido ao estado de ex-pessoa em decorrência de interação virtual excessiva e compulsória.

(Um dia tem mais, se não me falhar a vaga-lumemória.)

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