quarta-feira, 9 de dezembro de 2020

Previsão de arco-íris


Entrei no site do Climatempo para checar a quantas andam os chuvaréus no Rio, e eis-me agora totalmente encantada: a página passou a contar com PREVISÃO DE ARCO-ÍRIS. Não bastassem a fofura e a poesia inerentes à coisa, o motivo da decisão deixa tudo multiplamente enfofurado. "Pela primeira vez [palavras do Climatempo], um canal de meteorologia vai incluir o arco-íris nas suas previsões para dar visibilidade à causa LGBTQIA+. Porque até entre os fenômenos meteorológicos há trabalho a ser feito pela inclusão de todos." Dizer mais o quê? aplaudir de pé por período bem estável, sujeito a pancadinhas orgulhosas nas costas do pessoal da equipe e uns trovejares de assobio em cascata. Ainda há amor, muito amor entre nuvens.

Alô, mídias todas – mirem-se nesse belezume e se ponham, por favorzinho, a distribuir mais respostas àquilo que se pergunta em technicolor. Quais os prognósticos de primeiras gargalhadas de bebês no trimestre inicial de 2021; qual o Produto Interno Brando resultante da onda inaugural de aconchegos pós-vacina; de quantos antidepressivos a fabricação tenderá a fechar seriamente, formidavelmente em queda; de quens hão de ser as melhores fotos de montanha-russa, já sem máscara camuflando o grito, nos parques despidos de pandemia. Onde no mapa moram os maiores prenúncios de points neodescolados, as maiores estatísticas de gente que resolverá ser impossível viver sem floreira na janela, os indícios mais científicos de que finalmente serão atendidos os pedidos do caçula por um doguinho, o gráfico de bicicletas que danarão a pedalar mais que o previsto (devido à retomada do fator vento no rosto). Onde a maior aglomeração de astromélias. Onde a maior inflação de beija-flores.

Queremos saber com urgência de plantão, editores caríssimos: se um arrastão de réveillons vai andar engarrafando avenidas, se blocos dum carnaval engasgado vão se acumular em zonas de convergência, se após o horror vamos dançar cicloneando de casa em casa, se haverá correção (mon)etária de aniversários, se está calculada a recuperação fiscal das valsas de casamento, se são esperadas tempestades adolescentes de pipoca nos cinemas, se torós de cartinha fofa inundarão os correios da Lapônia, se antigos modos de riso e teatro e namoro e festa entrarão em concordata. Queremos saber se animaizitos dos abrigos permanecerão adotados; queremos saber se pandinhas gorduchos continuarão nascendo em cativeiro; estamos precisadíssimos de saber se milhares de bochechas japonesas serão devidamente filmadas durante as Olimpíadas. É crucial, é capital, é primordial desbravar aventuras de um futuro possível, globo-reportar as estranhas novas ocorrências de nossa vida selvagem, broadcastear o que existe de lindo a ser aguardado para além da bandeirada desta São Silvestre de um ano. Que o quanto antes se meteorologizem mais sóis, se augurem mais aberturas de céus – já que o sonho é dos raríssimos portadores de salvo-conduto para queimar a largada. 

(Com vários milímetros de precipitação.)

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