terça-feira, 5 de janeiro de 2021

Eis as questões


Alguns sites costumam propor perguntas específicas para ir cavando mais e mais na personalidade de quem se está querendo conhecer – normalmente, conhecer com objetivos casadoiros ou contratadoiros. Acho fabuloso: ainda que a conversa em questão não termine com os interlocutores assinando documentos em cartório, certas interrogações sugeridas nas listas que já visitei são instigantes o bastante para longas lives e longas vidas de papo, chope (mate, no meu caso) e amizade, ou simplesmente para uns salteados textinhos, que não deixam de ser diálogo entre um autor matraqueiro e um leitor supostamente mudo (com paciência de barman) que o atura. Pois quem chegou até aqui que me ature mais um tico e chupe a manga de algumas dessas perguntações palpitantes que sorteei à deriva:

O que você acha que todos deveriam fazer pelo menos uma vez? 

Há pouquíssimas coisas muito seguramente universais, aplicáveis a todos, todos; mas creio que pelo menos duas, e indispensáveis: abraçar alguém a quem se ame incondicionalmente e fornecer ajuda (não necessariamente ao mesmo alguém) sem esperar qualquer devolução at all.

Se você tivesse a própria rede de televisão, sobre o que seria?

Sobre empatia, sem nem blinkar. Não tenho a mais vaga dúvida de que a faria comunistérrima, colorida, diversa, o mais aparentada possível com o Brasil real – muito mais negra que branca, regionalmente equitativa, sortida de mil representatividades de gênero –, porém com -458% de representatividade direitista. Para a fascistolândia já há todos os outros canais, eoein, vade retro. 

Você aceitaria o poder de ler a mente dos outros se soubesse que nunca poderia "desligá-lo"?

Sem hesitação. Seria de uma total maravilhosidade, como professora, saber onde moram as dúvidas que as jovens cabecitas não expressam nem elaboram; e seria de ainda maior fabulosidade, como militante, conhecer direitinho em que altura do córtex alheio as mentiradas da gente nefasta se ataram, para pisar de jeito preciso e manso no ato de desatá-las. "Uooou, e a carga negativa das pensarias todas?" Né coisa bonita não, mas aguento o tranco pelo troco: a chance bilhete-douradinha de ser cirúrgica contra os nós górdios – metaforicamente, é claro. 

Até que idade você gostaria de viver?

Todas.

Pelo que as pessoas se interessam muito que não faz sentido para você?

Esportes competitivos em geral (vejo um total de zero sentido em disputas), carros de luxo, carros esportivos, carros, comédias, games, smartphones, WhatsApp, BBB, A fazenda, namorados dos famosos, convidados dos famosos, festas dos famosos, roupas dos famosos, roupas de grife, qualquer trecaiada de grife, praias, birinaites, baladas & assemelhâncias.

Se você pudesse ter um sotaque, qual seria?

Francês ou pernambucano.

O que você mais quer dos próximos dez anos?

O melhor que eles puderem querer de mim.

Como você descreveria a si mesma?

Perguntinha só para saideirar: sou basicamente uma alma pássara, beija-flora, colibríssima, arreliada demais da conta com limites de tempo e som, como prazos, horários e gentes falando, falando, falando. Acho tudo que é flor, acho que é tudo flor e que toda flor é pro meu bico. E espero dizer ao povo que, enquanto houver mundo de brincar e polinizar, fico.

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