sábado, 23 de janeiro de 2021

Fora da caixinha


Estava lendo há pouco sobre trabalhos insólitos/ divertidos/ bizarros que não acreditamos existir, mas que não só existem como – por sua pegada exageradamente específica – costumam render salários até balofinhos. A função de faxineiro de rodovia, por exemplo: nos EUA, camarada ganha polpudo para limpar estradas após acidentes com animais (situação infelizmente comum em excesso no país), com a condição, porém, de estar disponível para jobs em qualquer horário, por motivos evidentes. Outro emprego próspero nas terras do Tio Sam: provador de comida canina, criatura incumbida de averiguar se gosto e consistência das rações e petiscos para doguinhos estão adequados aos clientes (mas não, não precisa engolir, pode fazer o sommelier). Outro: ACONCHEGADOR PROFISSIONAL – juro; leia a matéria linkada, se duvida –, zeloso funcionário apto a receber uns 60 dólares POR HORA para dormir de conchinha, permanecer um tempo abraçado, essas coisas. Só essas coisas mesmo, sua mente encardida, tsc, tsc; não há transa envolvida na transação. 

Entre as ocupações surreais listadas, tem também mergulhador que pesca bolinhas de golf em lagos, a fim de revendê-las; testador de toboágua (quero!!), que avalia se crianças e adultos podem brincar em segurança; escritor de biscoitos da sorte, encarregado de condensar humor, altas profundidades e autoajudas nas famigeradas mensagenzinhas; exercitador de cavalos, que põe os fofos para aquecer em treinos e pré-corridas; madrinha profissional, espécie de BFF de aluguel que não se limita a comparecer à cerimônia, também dá uma força com os preparativos. (Esta última atividade, junto com a do aconchegador que citei acima, me deixou na bad por procuração, confesso: me parece sumamente triste ter a necessidade de alugar afeto e envolvimento emocional de desconhecidos, por mais que se esteja remunerando uma função pré-estabelecida às claras, objetiva, honesta. Não julgo contratantes nem contratados, mas não posso deixar de lamentar amigamente pelos primeiros).

Toda essa diversidade e crazydade de carreiras que há me pôs cismando a respeito de outras tantas que talvez não haja, e poderia – ou deveria. Um personal desarmator de árvores de Natal, hein? olha que beleza; preciso, careço, desde já amo muito (perdoem a mentirinha retórica, na verdade tenho horror a qualquer um mexendo em qualquer coisa dentro de casa. Mas que me desgosta retirar os enfeites, desencaixar os ramos e socá-los todos na caixa onde NÃO cabem, desgosta). Também seria bem-vindona a função de cobrador de livro emprestado, ou muito mais interessantemente: de RESGATADOR de livro emprestado, afrontoso de todas as intempéries, devassador de todos os esconderijos, desbravador de todas as gavetas. Consigo alvissarar, ainda, um nicho grandão de mercado para destrinchadores de briga de vizinho; para harmonizadores de almofada díspares; para brigadores personalizados com bancos, operadoras e demais empresas calamitosas (né advogado não, é tratamento profilático); para ralhadores com catioríneos que fazem cara de São Francisco depois de tentarem demolir a casa; para agendadores particulares da programação da NET que queremos ver, mas de que sempre perdemos a reprise; para puxadores da ficha corrida de cada criatura que aparece para a vacina (xô, fura-fila das trevas!!); para assistidores – com entusiasmo convincente – das filmagens de 6 horas que fazemos das viagens ou festinhas de família; para descafonizadores de ambientes em geral, cargo que, aliás, anda fazendo falta naquele hospital breguééérrimo onde se internou Luciano Hang. O QUE é o piano de cauda BRANCO no lobby, gente?!

Ah, sim, fornecedores de temas e materiais afins para cronistas diários: há vagas. Precisa nem currículo – só trazer um brain que storms o bastante para chover recursos nesta pobre humana.

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