segunda-feira, 25 de janeiro de 2021

Vocabulargh


Uma amiga de Face declarou/ sondou: "'Friaca' e 'praiana' são duas das palavras que mais detesto no léxico pt-br. Quais as suas?". (Importante esclarecer que a praiana em questão não é desagradável como adjetivo, seu estado natural, e sim como o substantivo que alguns cariocas irritantemente adotam: "Vou pegar uma praiana". Aliás, boa parte da desgraceira aqui descrita está sendo descrita sob nossa oticarioca.) Pessoal contribuiu com a pesquisa e foi despejando, no post, termos com alto índice de odiabilidade segundo as opiniões presentes, como bandalha, gentalha, chupeta, rabicó, cônjuge, bucho, colega, sextou, gratidão – no que devo concordar, porque RANÇO define esse xarope e o embrulha junto com todas as variantes –, resenha, gatilho, breja, top, show. Alguns, é verdade, nem são abomináveis pela forma, mas nauseentos por inexplicáveis ampliações de conteúdo e/ou por insistência no clichê até o vômito. Em qual esquina viramos errado para "resenha" ter escorregado do acadêmico para a socialzinha? Quem ainda aguenta "gatilho" como detonador de QUALQUER coisa, em QUALQUER texto (a esta altura, já rebaixado de metonímia para o rés do chão da catacrese)? Aff, viu.

Também deixei no post minha modesta contribuição de verbetes antipáticos. Filhota, por exemplo, eu odeio desde que Cabral (o Pedro, não o Sérgio) aportou nestas terras; sei que é supostamente carinhoso, mas still. Sempre me pareceu um significante grosseiro, abrutalhado, sem delicadeza, mui diferentemente de filha e filhinha. Outro de minha série "abomino esse troço hediondo porque sim" é predileto – argh! –, que só em situações de autêntico desespero eu empregaria no lugar de preferido ou favorito; não consigo NÃO considerar o termo cafona feito piano de cauda branco, cascata de camarão, roupinha de crochê para vaso sanitário (nada contra predileção, porém; até gosto). O mesmo cafonadar grita diante de casório, que não sou capaz de enxergar como casamento a não ser numa boa festa junina, entre os devidos anarriês.

Cheguei a citar somente essas três aberrações na postagem da amiga, mas completo aqui o raciocínio – surfando no clima casamenteiro, inclusive: boda, gente (assim mesmo no singular), é inviável. Boda não dá. Não vejo problema quando está adequadamente pluralizada, no sentido de aniversário de matrimônio; com o uso que uma Caras da vida faz da palavra, no entanto ("A boda luxuosa de Ostrogôncio Ourides Vilela e Rodoarda Savoia Galaretto"), o coração descompassa de breguite aguda. Esposo, especificamente nessa versão masculina, está para mim na mesmíssima prateleira do intolerável, em que ponho igualmente os enervantes paizão, carrão, barrigão, corpão, corpaço, assíduos em chamadas de site e revista ("Atanagilda exibe o corpão em Trancoso"; "À espera de Valentina Augusta, Eteoclísia Marinho mostra o barrigão de sete meses"; "Hermengardo Cristiano assume o lado paizão"). Além do campo coluna-social-clichê-cafônico, odeio com força toda a seara escatológica da língua: meleca, fedorento, catarro, gosma, chorume e demais porqueiras. Fora, claro, quase todo o vocabulário coach-empresarial, pleno de ridiculices como mindset, case, mentoring, agregar valor, colaborador – que na realidade, em bom português não eufemístico, é funcionário –, sinergia, meritocracia, proatividade. Simplesmente NÃO AGUENTO por mais de 7 segundos o papinho-aranha de quem vive de convencer empregado a verter sangue pelo lucro do patrão.

Me dá gatilho.

Nenhum comentário: